Apesar da longa curva de aprendizagem, cirurgia minimamente invasiva deve tornar-se o padrão ouro para casos selecionados. Mais rápida e segura, ela agiliza a recuperação e está ajudando os pacientes a perderem o medo de operar.
A cirurgia endoscópica de coluna está se tornando uma coqueluche no meio ortopédico, vencendo gradativamente a resistência dos cirurgiões mais tradicionalistas que preferem operações abertas. Essa é a visão do Dr. Sílvio Carlos Ferreira, ortopedista especialista em coluna vertebral que atua no Hospital Alvorada Moema, em São Paulo. Segundo ele, a abordagem endoscópica deve tornar-se, no futuro próximo, o padrão ouro no tratamento de patologias de coluna tratáveis pela via minimamente invasiva.
“A alternativa endoscópica elimina toda a parte crítica de uma cirurgia aberta de grande porte, como perda de sangue e necessidade de internação em UTI, sem contar que oferece uma alternativa aos pacientes quem têm medo de serem submetidos a procedimentos abertos”, avalia o Dr. Sílvio. “Com incisões que vão de 0,5 a 1 centímetro, a cirurgia endoscópica também ajuda a resolver questões relacionadas a impactos estéticos da cirurgia aberta, que atemorizam os pacientes com suas cicatrizes”, ele acrescenta.
Outro ganho diz respeito ao tempo de internação. “Numa cirurgia endoscópica, o paciente interna de manhã e pode voltar para casa depois do almoço”, informa Dr. Sílvio, lembrando que em alguns casos os procedimentos podem ser feitos sem necessidade de anestesia geral. “Um bloqueio anestésico na região da coluna pode ser suficiente”, ele explica. Em uma semana o paciente já pode dirigir e em 15 dias retomar suas atividades profissionais. Numa artrodese convencional, por exemplo, isso pode demorar quatro meses.
De acordo com o Dr. Sílvio, respeitados rigorosamente os critérios de seleção, são menores as chances de recidiva e melhores os resultados das intervenções minimamente invasivas.
Curva de aprendizagem
Mesmo com tantas vantagens, a longa curva de aprendizagem da cirurgia endoscópica de coluna continua sendo uma barreira para essa modalidade se expandir ainda mais no Brasil. Na Coreia do Sul, berço da técnica, recomenda-se que, depois da formação e treinamentos práticos, sejam realizados pelo menos 45 procedimentos assistidos com tutoria de outro médico mais experiente. “Eu, por exemplo, só me senti capaz de fazer essa cirurgia depois que fiz um ano de pós-graduação na USP de Ribeirão Preto”, conta o Dr. Sílvio.
Desenvolvida inicialmente para tratamento de pequenas hérnias de disco, a aplicação da cirurgia endoscópica vem se expandindo, sendo adotada hoje até para extração de tumores, sanar estreitamento de canal e para colocação de próteses na coluna. “Ela pode ser aplicada para quase tudo. Os limites são estabelecidos pelo nível de expertise de cada médico”, pontua o Dr. Sílvio.
Todavia, a cirurgia endoscópica não é indicada para pacientes com déficits neurológicos graves não agudos ou com instabilidade na coluna, particularmente quando há translação das vértebras que precisa ser estancada pelo seu caráter lesivo. Nesses casos, a abordagem é a cirurgia aberta.